Para quem não sabe eu tenho a melhor mãe do mundo. Suponho que cada um ache isso da sua e tem mais é que achar mesmo. No meu caso a minha é especial porque até hoje ela me ajuda muito com os meus filhotes. E eu sempre parto do principio que vó não tem obrigação nenhuma de cuidar, apenas de curtir. Mas a curtição dela é dessa maneira e eu só tenho a agradecer. E não é só para mim que ela faz tudo que pode e não pode, meus irmãos, vó, tia, vizinho próximo, também recebem o tratamento VIP. Mas eis que um dia ela solta a novidade que recebeu um convite para acompanhar em cadeira cativa a beatificação do Papa João Paulo II. Para ela que a pessoa mais católica que conheço deve ter sido uma honra.
Ela ficou toda animada, mas dependia da aprovação do meu pai no quesito 'money'. Meu pai, que é meio estressado, mas no fundo um bom marido liberou a grana. Claro que antes fez dezenas de perguntas detalhadas (quem conhece o moço sabe com ele é minucioso) sobre o roteiro e minha mãe não sabia explicar nem 1/3 de cada questionamento. Na minha cabeça ela devia pensar 'eu quero ir sem saber para onde'. Pensei assim porque minha irmã e eu ficamos incentivando meu pai a acompanha-la na viagem. Sem que ele percebesse ela torceu a cara para gente com um gesto 'não, quero ir sozinha mesmo'. Então finalizamos a conversa dizendo 'pai melhor você ficar mesmo, essa viagem não tem o seu estilo e blá blá blá'.
Voltando porque pensei assim, é lógico que seria parecido com uma libertação não ter ninguém por perto. Ja que ela faz tudo para todo mundo e simplesmente não consegue falar não. Vale lembrar que eu não abuso da sua boa vontade, só faço pedidos (sem ser o fato dela ficar com as crianças enquanto eu trabalho) em casos extremos.
Ela foi e ficou 20 dias fora. Nesse período até que consegui me virar bem. Vamos aos pontos de aprendizagem: levei as crianças na natação e esqueci o básico, as bolsas com tudo dentro. Voltamos para casa com eles chorando; na outra semana levei tudo, mas esqueci de incluir na mochila os trajes íntimos (conhecidos como calcinha e cueca); e toda segunda-feira eu levava o lanche da escola para a moça que cuidou deles na ausência da minha mãe. E um belo dia eu esqueci completamente. rs
Agora vamos aos pontos bacanas: fiz janta quase todos os dias e o Leo e as crianças amaram. Os pequenos mesmo jantados repetiam a comida da mamãe. Fiz picanha com alho divina, batatas assadas no azeite com alecrim, frango indiano, o básico macarrão, entre outros.
E nesse período todos ficamos morrendo de saudade, mas eu estava mega-feliz pela minha mãe que teve a oportunidade de fazer uma super viagem ao estilo dela. Mas as crianças ficaram com o coração mais apertados que a maioria. Principalmente, a Marina que desde o primeiro ou segundo dia dizia para todo avião que passava 'deve ser a vovó indo para algum lugar'. Ja que além das cidades da Itália o roteiro da viagem incluia Espanha e França. O Gui a chamava dormindo e quase todo dia perguntava quando ela ia chegar.
No dia das mães (primeira vez que passei longe dela) Marina foi a segunda a falar com a vovó. Bom ela só conseguiu dizer alô e chorar muito, mas muito mesmo e em meio aos choro repetia 'estou com muita saudade'.
Finalmente, chega o dia da volta da vovó. E como não poderia deixar de ser, o voo atrasou, ela pegou um mega-trânsito na marginal. Previsão de chegada, 8h30. Chegada oficial 11h. Como foi em plena segunda-feira eu não estava presente na hora, mas quem estava disse que por pura coincidência, ela chegou na hora que quase todos os netos estavam na rua. A Marina já foi dando o recado 'nunca mais fique tanto tempo assim'. Eu só a vi no final do dia, mas foi uma sensação maravilhosa poder abraça-la e dizer que era bom demais fazer esse gesto. Ela lógico retribuiu e eu já fui perguntando como os pequenos a tinha recebido. Ela respondeu que com saudade, mas que o abraço mais forte e demorado foi da Marina e Bia (minha sobrinha de 13 aninhos).
Agora, ela está serena e com uma cara diferente do tipo 'não me arrependo nem um pouco da viagem, mas ficar perto da família é ainda melhor e não tem dinheiro que pague'. O melhor de tudo é que ela soube passar esse valor tão precioso para gente (meus irmãos e eu). E agora eu estou tentando passar para os meus filhos e espero que assim seja, para os netos, bisnetos....